quarta-feira, 16 de maio de 2012

ENTREVISTA COM FAL AZEVEDO

Ana Laura Diniz
 


Lançamento amanhã, 17 de maio
livro da Fal Azevedo "Sonhei que a neve fervia"
Livraria Prefácio - Rua Voluntários da Pátria, 39, Botafogo (RJ)
fone (21) 2527-5699



1) Como surgiu a ideia de escrever "Sonhei que a neve fervia"?

Ana Laura, o Alexandre morreu. E fui escrevendo sobre isso. Sobre o que eu sentia. Sobre o que eu me lembrava do que aconteceu. Sobre minha dor. Sobre meu medo e minha solidão. Sobre o que acontecia em volta de mim. Sobre você, minha margaridinha comedora de cebolitos e sobre a nossa belíssima e macia Esther. E daí, virou livro.


 2) Como se deu o trabalho de criação?

No caso específico do Sonhei, fui colocando cronologicamente no papel. Vivia hoje, escrevia amanhã. Depois, na relida, coloquei cousas, tirei cousas. Porque, né? É assim.


3) É o seu quarto livro publicado, o segundo pela editora Rocco: quais os planos futuros? Outro livro na costura? Na ideia? Em processo de feitura?

Tem um de humor, um manual mal educado de etiqueta. Um de comida. Esses, prontos. Um começado, de cartas, em parceria com mermão, o Pedrão, também de humor. E um alinhavado, uma jornalista policial neurótica e gorda chamada Olímpia, hahaha, não teça comentários


4) Quanto à reação do público, incluindo a sua legião de fãs [amei dizer isso porque também me incluo: estou em todas as variáveis da sua vida], qual a sua expectativa em relação à obra mencionada?

Tou me pelando de medo pra falar a verdade. É um treco todo muito pessoal, não sei bem onde eu tava com a cabeça. Devia ter escrito em terceira pessoa e chamado a fia de Marieta.


5) Como foi desenvolvido o seu processo de criação? Do princípio ao fim, quais alterações (se é que houve alguma) mexeram de alguma forma contigo?

Meu processo de criação assim, na vida? Eu anoto compulsivamente, tudo, tudo mesmo. O que penso, o que sinto, o que ouço, o que você disse e que roupa você está vestindo. Quando o volume de anotações espalhadas vira uma massa critica, releio tudo, tento organizar, separo, dou forma, junto parágrafos, elimino coisas. Ah, até aqui foi tudo feito à mão. Daí, a coisa é toda digitada. Assim, meio molenga e sem forma. Imprimo. Releio. Mais anotações à mão, isso vira crônica, isso entra no livro tal, isso vai pro blog, isso vai pra gaveta, isso vira carta pro Ricardo, isso aqui é e-mail pra Camila. Junto, separo, acrescento parágrafos. Mais uma rodada de digitação, mais uma rodada de impressão. Releio, anoto,digitio e, geralmente, daí fico só na tela, o material não volta a ser mexido na mão.
O Sonhei foi meio atípico, porque foi diário. Dia tal, pa-pá, aconteceu isso, vi aquilo, pimba, fechou.


6) Sendo escritora, como se classifica hoje?

Hahaha, Ana Laura, que pergunta... capciosa. Sou uma escritora que trabalha pacas. Que recomeça todos os dias. Que não sabe bem pronde o trem vai, mas sigo firme. Que nem prego na sopa.


7) Fal por ela mesma: uma descrição.
Eu sou um amor de criatura, Ana.


8) "Sonhei que a neve fervia" por "Sonhei que a neve fervia". O que o livro diz dele mesmo?

É um livro pessoal, em primeira, sofridinho, soluçado.


9) Qual(is) dica(s) você dá para as pessoas, jovens ou adultos, que desejam escrever um livro?


Encontrem um narrador. Comigo é o que funciona: achar quem vai contar a história, antes do resto. Final, tempo, forma e tal, vemos depois. Mas sem um narrador, não da nem pra começar. E trabalho. Escrever é um negócio pesado, grudento, difícil, é um eito. Esqueçam as manguinhas bufantes, tinteiros de cristal, plumas de ganso, tinta lilás e arranjos de rosas cor de laranja no centro da mesa. Bem vindos ao mundo dos descabelados, da caneta bic sem tampa, dos guardanapinhos cheios de manchas e anotações, das cadernetas sem capa, dos computadores que fervem, das impressoras que não funcionam, dos caras que deixam o banho para amanhã.


10) Dá pra viver sendo escritor? Conheço, no mínimo, nove jovens adolescentes que sonham com isso.

Dá. Não eu, mas tem gente vivendo disso, né, Aninha.


11) Como analisa o mercado editorial hoje no Brasil? Acha que mundo afora é diferente?

Ô Ana, num sei analisar mercado editorial, não. Tem livro bom, tem livro ruim. Tão caros, mas eu sou pobrinha, acho tudo caro. Tem injustiça, tem justiça, tem editoras boas e ruins. Espero que, em algum lugar, seja diferente :o)