sexta-feira, 18 de março de 2011

A MULHER E O NEGRO

Por Esther Lucio Bittencourt

O primeiro nasceu em Honolulu, no Havaí. A segunda em Belo Horizonte, com descendência búlgara, cuja cidade paterna, Gabrovo, festejou a sua vitória como presidenta do Brasil. Um traz no DNA o sentimento de ilha. A outra, das montanhas que se repetem em Minas Gerais. Portanto, são pessoas com tendência à introspecção, segundo as lendas. Um dia, quem diria, na terra do Ku-Klux-Klan (KKK), do Mississipi em Chamas, do preconceito racial, da guerra civil entre sul e norte, o negro Barack Obama se torna presidente.

É a ideia do impossível sendo realizada.

No Brasil, terra do coronelismo, do machismo, onde as mulheres conquistaram direito ao voto obrigatório apenas em 1947, uma mulher, Dilma Rousseff, é hoje a presidenta da República.

Se Flannery O’Connor, escritora norte-americana, transformasse essa história em conto, certamente a situaria no meio oeste americano, e usaria de sua ironia para narrar um desfecho trágico /cômico e precisaria pedir ajuda de Lewis Carroll, autor de situações inimagináveis, além de precisar de uma pitada  de Lima Barreto e Machado de Assis, para registrar o encontro do impensável: uma presidenta  mulher no Brasil e um presidente negro nos Estados Unidos.

Certamente caberia nessa história, o apóstolo João para narrar o início do apocalipse. E, para tanto, bastaria que um papa de origem árabe abençoasse a reunião. Seria o fim dos tempos!

Cara, você já sacou que vivemos num novo mundo? Onde as impossibilidades se tornam reais? Que nos ensina a cada dia que as palavras nunca e impossível foram riscadas de todos os dicionários? Brother, saca só, é um momento único na história do mundo por vários aspectos.

O primeiro já foi dito. O segundo é que não foi o presidente ou a presidenta eleita do Brasil que se dirigiu aos Estados Unidos como é de praxe. O trajeto foi inverso. É o presidente dos Estados Unidos  vem visitar a presidenta do Brasil, recém empossada.

Me conta, pessoa, estamos saindo da lista negra de países em desenvolvimento para sermos reconhecidos como potência emergente? Ou isso retrata apenas um momento de aberração? Um negro com o maior poder do mundo encontra a branca, em um país que melhora e cresce para todos nós brasileiros.

Vamos lá. Se Rita Lee estivesse presente na festa, cantaria Bwana, Bwana, aposto. Caso Paul Mccartney fosse convidado, a música seria Ebony and Ivory. E se  presente Cauby Peixoto  aposto que a música seria Conceição. E onde ficaria John Lennon nesta festa de arromba? Creio que cantaria Wooman.

No Brasil, as mulheres são preparadas para carregar lata d’água na cabeça, obedecer cegamente a seus amos e senhores que tinham abertas as senzalas para os negros.

E amanhã, a porta da senzala se abre, a senzala é derrubada definitivamente, porque na Casa Grande do Palácio do Planalto o negro Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, será recebido pela mulher  Dilma Rousseff, presidenta do Brasil. Sabe que eu ainda não caí nessa real? Ajude-me Gilberto Freire.