terça-feira, 8 de março de 2011

MARIAS BONITAS

Por Dorothy Coutinho



Ela, um ser superficial, viciada em amônia. Ele era só uma célula.

Um dia as enzimas se tocaram, ela sugou o seu aminoácido, e de repente passaram a ser uma só célula. Tinham inventado o sexo! Nunca uma coisa pegou tanto! Mas, para ela ainda era pouco, ela queria fazer tudo.

Foi preciso virar ameba, depois peixe e depois réptil, crocodilo, elefante, borboleta, centopéia, sapo e de repente MULHER, provando que Deus também é luxúria, é ânsia, e que depois de bilhões de anos havia acertado a fórmula, ao gritar: “não mexe em mais nada”!

Excetuando-se a gestação, parto e amamentação eu fui o que se convencionou chamar: “a MULHER do futuro”.

Conheci vários homens verdes e robóticos que assustariam qualquer marciano.

Aprendi a lidar com a máquina de lavar, com o aparelho de Cd Player, com a direção do carro, com as operações bancárias e com o controle remoto. Estou aprendendo a lidar com o computador e em conseqüência com a Internet que faz logoff.

Tratei namorado como se fosse pai, e marido como filho. Senti ciúmes residuais. Dei conselho sobre coisas que jamais consegui resolver. Senti culpa. Passei a gostar do cheiro de água sanitária. Constatei que meu salário se desintegra como uma partícula atômica e que meus pensamentos e desejos mudam na velocidade da luz, enquanto os meus sonhos se desmaterializam.

Na minha visão otimista: em casa, em família, os homens pegarão na vassoura para varrer o chão, recolherão as cinzas, limparão os cinzeiros, abaixarão a tampa do vaso, juntarão suas meias e cuecas e apagarão as luzes para economizar energia elétrica.

Enquanto esse comportamento não evoluir, essa é a realidade que derruba os mitos de que no Brasil as mulheres estão fazendo o caminho de volta para casa. As mulheres vieram para ficar e deixar tudo melhor do que encontrou.

No Dia Internacional da MULHER, minha solidariedade a todas as Marias Bonitas – vítimas da violência social.