sexta-feira, 11 de março de 2011

ALMIR SATER, UM VIOLEIRO

Por Ana Laura Diniz

foto divulgação

Eu sei que bem disse na semana passada que iria mudar o rumo dessa prosa, mas realmente não consegui deixar Almir Sater apenas numa breve citação.

Almir Eduardo Melke Sater, na verdade, nasceu em 14 de novembro de 1956, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Ainda muito criança, estudava violão sempre atento ao rádio, aos discos de bossa nova, e, especialmente, ao som da viola caipira.

Curtia desde cedo a vida no campo. Os pássaros, os bois – o som dos berrantes –, os cavalos e as cavalgadas que fazia sempre que podia.

Só tomou distância disso quando foi cursar Direito no Rio de Janeiro. Mas paixão arrebatadora, sabe como é? Desistiu de advogar: precisava de uma viola caipira, instrumento, aliás, que o celebrizou. Teve aulas com o violeiro Tião Carreiro.

Vista noturna de Campo Grande
Voltou para casa, e entregou-se de corpo e alma à música.
Cantou as belezas naturais do universo mato-grossense e tornou-se conhecido no Sul e Sudeste do Brasil. Seu primeiro disco, em 1980, teve participações especiais das irmãs Tetê Espíndola e Alzira Espíndola.

Na época, com parcos quatro anos, embora lá em casa fosse comum cairmos na cantoria, não conhecia nenhum dos três.
Precisamente, no festival que abriria a minha cabeça – em termos de imagem e concepção – para as várias vertentes musicais, em 1985, promovido pela rede Globo, foi que ouvi pela primeira vez a Tetê com “você pra mim foi um sol, de uma noite sem fim...”. E delirei com a voz de Oswaldo Montenegro, por quem nutri vastas e múltiplas admirações por anos a fio. Nesse mesmo festival, torci deveras para que Leila Pinheiro vencesse com seu “verde as matas no olhar, verde quero ver...”, mas se a memória não falha, Leila ficou em terceiro lugar, Oswaldo voou mais longe com o seu condor, ficando em segundo, e Tetê, arrebatou o primeiro.

A partir daí, a vida que já tinha amplo conhecimento musical, caminhou a passos largos. Isso porque a minha família é muito alegre, e lembro infinitamente mais de música que de televisão ligada em casa. Até hoje. E foi na informalidade do lar que Vinícius e todas as suas possíveis parcerias ganharam vida. Tom, Chico, Nara, Juca Chaves (ah, “as músicas proibidas”! Como o meu pai ria da inteligência capciosa e ardilosa do danado), Lucio Alves, Dick Farney, Doris Monteiro, Caetano, Bethânia, Gil, Gal, Rita Lee... e tudo foi se misturando à época que considero o melhor do rock nacional, Titãs, Os Paralamas do Sucesso, Legião Urbana... sem esquecer da lira paulistana – que deixo aqui registrado hoje apenas o grupo Rumo (porque mais adiante falarei mais, e dos outros) – e, claro, Adonirans e DeMônios da Garoa – quando São Paulo ainda tinha.

Mas o que tem Almir Sater com essa bagunça toda? Perdi o fio da meada? Não. É que foi mais ou menos no meio desse louco parangolé que surgiu a figura dele para mim: um homem de olhar enigmático, cabelos encaracolados,  chapéu na cabeça, rosto liso de barba bem feita, voz firme na fala e encantadora na melodia.

Mal eu sonhava que a popularidade dele já estava em alta quando atuou, em 1990, por indicação do amigo Sérgio Reis, em "Pantanal", novela de Benedito Ruy Barbosa, na finada rede Manchete.
Falando em amigos, um dos maiores diga-se passagem, é Renato Teixeira – de quem também gosto muito como artista –, parceiro desde seu segundo disco, "Doma", de 1982, na faixa "Peão". 
E nesse vai-e-vem cronológico, em 1985, Sater montou o documentário "Comitiva Esperança", onde viajou pelo pantanal mato-grossense pesquisando a música e os costumes da região, vertendo toda experiência para o seu primeiro disco instrumental.
Depois de lançar outros discos e abrir o Free Jazz Festival de 1989, foi que ele atuou em "Pantanal". Mais curioso ainda, talvez, é que a sua primeira experiência como ator aconteceu foi no cinema, coincidentemente (ou não) na pele de um violeiro em "As Bellas da Billings", de Ozualdo Candeias.
A atriz Ingra Liberato e Almir Sater na pele
de Ana Raio e Zé Trovão 
E assim seguiu a vida. Sem nunca abandonar a música, depois foi um dos protagonistas de "Ana Raio e Zé Trovão", emplacando um sucesso atrás do outro, e encerrou sua carreira televisiva em 1996, em o "Rei do Gado", também de Benedito, mas na Globo.
Almir Sater voltou à cena em 2006, com o cd “Um violeiro toca”, um resumo até então de seus 25 anos de carreira. Destaque para a música-título do disco, que particularmente está entre as minhas prediletas, e os grandes sucessos "Chalana" e "Tocando em Frente". 

E os dias seguem harmoniosamente. Almir é casado com Ana, pai de Bento, Yan e Gabriel; e divide seu tempo entre a casa na Serra da Cantareira, em São Paulo, e na fazenda Murundu, no Mato Grosso. O cabelo permanece comprido, mas quase nunca é penteado. O chapéu cumpre o papel de manter os cachos sempre arrumados.

Discografia

Um violeiro toca, Som Livre – 2006
CAMINHOS ME LEVEM, Som Livre – 1996
TERRA DE SONHOS, Velas – 1994
ALMIR SATER AO VIVO, Columbia/Sony Music - 1992
INSTRUMENTAL DOIS, Eldorado - 1990
RASTA BONITO, Continental - 1989
CRIA, 3M - 1986
INSTRUMENTAL, Som da Gente - 1985
DOMA, Som Brasil/RGE - 1982
ALMIR SATER, Continental - 1981

Extra

O REI DO GADO 2 - Trilha Sonora da Novela da Rede Globo, Som Livre - 1996