sábado, 5 de março de 2011

84, CHARING CROSS. LONDRES

Por Sonja Faria Rosa

Big Ben
Quando Vim Morar em Londres... no ano de 1987, perguntaram-me se no Brasil não era preciso comprar frutas, uma vez que elas estariam por todo lado, questão de apenas esticar o braço e pegá-las. Também perguntaram se haviam cobras nas ruas, se comíamos com garfos e se o Brasil era uma enorme floresta. Parece irreal, mas a maioria dos ingleses ainda acha que o Império Britânico ainda impera no País.

O que fazer ao chegar aqui para ganhar dinheiro?

E o dinheiro era bom. Fui trabalhar na casa de uma família judia, rica até não mais poder. A mulher, calada, não dizia nada. O marido, autoritário, explicava o que devia ser feito. 

- Ao trocar a roupa de cama, preste bem atenção: fronhas quadradas para os travesseiros quadrados e fronhas retangulares para os travesseiros retangulares.

- Really?, perguntei. Logicamente: se viemos para trabalhar para eles, analfabetas devíamos ser.

Eles que se acham de primeiríssimo mundo têm hábitos que no Brasil seriam considerados de 4º mundo. Duvida? Eles não tomam banho todo dia (e põe 3 dias nisso...), arrotam na sua cara e pedem desculpas em seguida (isso quando não fazem pior, sempre com a desculpa pronta na ponta da língua) e nos banheiros públicos há placas ensinando como se deve lavar as mãos.

- Faxina.

British Museum
(Foto: Wikipedia)
O que sabem do Brasil? Que tem a Floresta Amazônica, e claro, que está sendo desmatada. Que tem o melhor futebol do mundo, já não tão melhor assim. Acham a comida estranha e não sabem quase nada da música brasileira, ao contrário dos franceses, que adoram. Mas isto já vem mudando porque cada vez mais muitos artistas brasileiros vêm fazer concertos por aqui.

Existem também várias revistas feitas para os brasileiros expatriados aqui. É, a colônia brasileira cresceu muito, e embora eu não tenha tido contato com os brasileiros, sei que são muito desunidos e invejosos. Sei de brasileiros que denunciam brasileiros com visto vencido e estes, obviamente, são deportados — e de igrejas evangélicas, que proliferam igual mato, que não praticam o que ensinam. Outro dia, enquanto esperava um ônibus, dois brasileiros comentavam como os pastores não os ajudavam.  Se estes contribuíssem para outra igreja senão a deles, aí era esquecer mesmo.

Aproveitando a temperatura de 17 ºC, uma criança
 se distrai no Parque de St. James, em Londres. 

(Dan Kitwood/Getty Images)
Os ingleses, ao contrário, são o povo mais solidário do mundo. Não há duvidas. Ah, e Londres é linda! Na primavera os jardins ficam tão repletos de flores que chegam a parecer pintura. E são flores maravilhosas que raramente existem nos trópicos como tulipas, clematis e cerejeiras. E tudo aquilo que a gente aprendia nos livros de ginásio sobre história antiga está aqui. Eles têm memória. E que memória! Tudo é guardado e conservado. Há sociedades para apreciação do que puder imaginar. E eles apreciam mesmo.

A flor de cerejeira nasceu como representante da
aristocracia japonesa. Sua missão sempre foi ser bonita. 
Os museus, quase todos de entrada franca, são indescritíveis. Além disso, muitos recitais de música clássica ou de jazz, no foyer das casas de espetáculos são também de graça no horário do almoço. E muita gente boa tocando... A cultura que existe aqui é para todo lado, real, fácil e acessível para quem quiser usufruir. E isso compensa tudo.